quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Dona Eura César, fundadora do Sebinho, falece

Dona Eura César, fundadora do Sebinho, o melhor sebo de livros de Brasília, localizado na 406 Norte, falece.
Ainda não sei qual foi a causa mortis, mas assim que souber, os informo.
De qualquer forma, segue-se, a título de homenagem e de memória (e porque não, também de curiosidade), um texto sobre Dona Eura César e o Sebinho, que encontrei por acaso na internet, em publicação de outubro/novembro de 2005.

Uma Senhora Livreira
Dona Eura mostra toda sua paixão pelo trabalho e amor pelos livros

Perfil

Quem freqüenta um dos mais
conhecidos sebos da cidade, o
Sebinho da 406 Norte, talvez não
saiba, mas a loja – hoje com dois
andares, ampla, bem organizada,
com um público enorme – começou
na sala da quitinete da família. No
início, era apenas uma opção de
Eura César de Oliveira para fugir do
desemprego e, conseqüentemente,
da falta de dinheiro. Dona Eura,
hoje com 75 anos, o filho Euro e a
nora Cida abriram a livraria há 20
anos apenas com os livros da família.
Como divulgação, fizeram panfletos
e entregaram nas universidades,
faculdades e caixinhas de correios de
prédiostantodaasanortecomodaasa
sul. O espaço da salinha rapidamente
se tornou insuficiente para a ânsia do
público e hoje o diminutivo Sebinho
só serve como lembrança para aquele
início descompromissado.
Eura nasceu na Paraíba, e
em seguida se mudou para Recife.
Quando pequena, estudava em uma
escola de freiras. Com a morte da
mãe, o pai optou por colocá-la e a
mais cinco irmãos no Colégio Interno
Batista Americano, no que ela definiu
como um dos melhores períodos de
sua vida. “Na escola de freiras, tudo
era pecado e castigo. Ficávamos
ajoelhadas no milho ou em quarto
escuro com caveiras que elas usavam
para nos assustar, enquanto no
Americano, o máximo de castigo
era passar a tarde na sala da diretora,
conversando com ela. A metodologia
de ensino era outra”, diz Eura. A mãe
deixou uma estante repleta de livros e
foi aí, bem pequena, que o interesse
pela leitura teve seu início.

morando
em
São
Paulo, Eura fez curso técnico em
contabilidade. Até os 27 anos
trabalhou em empresas como
auxiliar de contabilidade. Casou-
se, e o marido permitia que ela
trabalhasseapenasquandoasituação
financeira apertava. “Quando eu
estava casada só trabalhava mesmo
quando era necessário. Às vezes
eu vendia produtos de beleza e
tecido de porta em porta. Era muito
cansativo!”, desabafa.
Com 22 anos de casamento e
dois filhos, Euro e Guacira, Eura
decidiu se separar e tentar a vida
em Brasília com os filhos. Começou
na Torre de TV vendendo roupas,
brincos e bolsas artesanais, mas
como o dinheiro nunca era suficiente,
largou a iniciativa e foi aí que surgiu a
idéia do sebo.
O sebo está com 20 anos
de funcionamento, e Eura adora o
trabalho, para onde continua a ir
todos os dias. “Meu filho não quer
que eu trabalhe mais o dia todo, quer
que eu fique em casa descansando,
mas todo dia eu venho pra cá e não
tenho horário certo. Tem dias que
saio às 15h, tem dias que saio às
18h”, conta. Gosta do contato direto
e próximo com o público, daquela
boa conversa que só as livrarias com
verdadeiros livreiros oferecem.
Eura, livreira quase por acaso,
achaimportantenãodeixardeexercitar
“a cabeça”. Por isso, usa o tempo
livre para ler – paixão de infância – e
aprender sozinha taquigrafia. Com
uma história de vida sempre ligada,
direta ou indiretamente, ao comércio,
a paraibana Eura conseguiu erguer e
consolidar um belo negócio – com
uma grande dose de encantamento
– em uma área normalmente tão
difícil como a do comércio de livros.
Uma realização e tanto.

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